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ToggleA dor no parto é uma das experiências mais temidas pelas mulheres que planejam um nascimento normal.
Às vezes o medo é tão impactante que muitas acabam preferindo uma cesariana para evitá-la.
Um estudo brasileiro com mais de 25 mil mulheres mostrou que a grande maioria opta pela cesárea principalmente por medo da dor no parto.
Na verdade, a dor do parto varia muito de mulher para mulher, sendo subjetiva e influenciada por fatores emocionais, culturais e até pela postura de quem oferece suporte durante o trabalho de parto.
Enquanto algumas mulheres descrevem a dor no parto como extremamente intensa, outras relatam que conseguiram lidar bem com as contrações e tiveram até experiências positivas.
No entanto, entender como é a sensação da dor no parto e por que ela ocorre pode ajudar a diminuir o medo.
Neste artigo, a Dra. Marina Mariz irá explicar tudo sobre a dor do parto: como ela é sentida, como aliviá-la, a diferença entre dor e sofrimento e muito mais!
Onde a dor no parto é sentida?
A dor no parto não se concentra em um único lugar do corpo, podendo mudar de localização conforme o trabalho de parto avança.
No início, durante a fase de dilatação do colo do útero, a dor surge principalmente durante as contrações uterinas.
Essas contrações intensas provocam a dilatação do colo uterino de 0 até 10 centímetros, distendendo tecidos e acionando receptores de dor no útero e no próprio colo do útero.
Nessa fase, é comum a dor ser percebida como cólicas fortes na parte inferior do abdômen e também nas costas (região lombar), podendo irradiar para os quadris, nádegas e pernas.
Muitas mulheres comparam as primeiras contrações a cólicas menstruais que vão aumentando de intensidade conforme ficam mais frequentes.
Conforme o trabalho de parto progride e o bebê vai descendo pelo canal de parto, a localização e a natureza da dor tendem a mudar.
No chamado período de transição (entre aproximadamente 7 e 10 cm de dilatação) a cabeça do bebê começa a pressionar e distender as estruturas do canal vaginal.
Nessa hora, o estímulo doloroso muda de origem, saindo do útero e passa para a vagina e pelve, o que geralmente torna as contrações ainda mais intensas e difíceis de suportar.
Não por acaso, esse momento de transição é frequentemente o mais desafiador em termos de dor, e é quando muitas parturientes que planejam parto normal acabam solicitando alguma analgesia para aliviar o desconforto.
Quando o colo do útero atinge dilatação total (10 cm) e começa o período expulsivo do parto, a dor passa a ter outra fonte principal: a distensão do canal vaginal, do períneo e dos músculos do assoalho pélvico pela passagem do bebê.
A sensação de pressão extrema e ardência na região vaginal/perineal é característica dessa fase final, quando a cabeça do bebê estica os tecidos ao coroar.
Curiosamente, muitas mulheres relatam que, ao chegar nesse estágio, a vontade involuntária de fazer força (de empurrar o bebê para fora) acaba ajudando a aliviar a dor.
Ou seja, ao longo de um trabalho de parto normal a dor pode começar no abdômen e nas costas, migrar para a pelve e vagina conforme o bebê desce, e atinge seu ápice na fase expulsiva, quando ocorre o estiramento máximo dos tecidos para o nascimento do bebê.
Por que aliviar a dor no parto é importante?

Sentir dor no parto faz parte do processo natural do nascimento, mas isso não significa que a mulher deva sofrer sem alívio.
Por isso, controlar e reduzir a dor no parto é importante por vários motivos, tanto emocionais quanto físicos.
Do ponto de vista emocional, uma dor acima do limite tolerável, quando não manejada adequadamente, pode gerar muito estresse e transformar o parto em uma experiência traumática.
O sofrimento intenso pode afetar negativamente a vivência do nascimento, prejudicando a vinculação inicial com o bebê e contribuindo até para quadros de ansiedade ou medo em gestações futuras.
Já do ponto de vista fisiológico, a dor excessiva desencadeia reações no organismo da mãe que podem impactar o bem-estar dela e do bebê.
Por exemplo, quando a mulher sente uma dor muito forte e fica angustiada, é comum que sua respiração acelere descontroladamente.
Essa hiperventilação pode alterar o equilíbrio de oxigênio e gás carbônico no sangue, reduzindo a oxigenação que chega até o bebê.
Além disso, a intensa resposta ao estresse libera hormônios como as catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) e o cortisol, substâncias que, em altos níveis, causam vasoconstrição e diminuem o fluxo sanguíneo para o útero e a placenta
Por isso, antes de entrar em trabalho de parto é recomendável que a gestante se informe sobre métodos de alívio da dor e deixe preparado um plano de parto registrando suas preferências
Dor e sofrimento no parto: qual é a diferença?
É fundamental entender que dor e sofrimento no parto não são sinônimos.
Quando falamos de dor no parto, estamos falando sobre a sensação física provocada pelas contrações e pela dilatação e saída do bebê – é, em essência, um processo fisiológico esperado.
Já o sofrimento é uma dimensão mais ampla, de cunho emocional e psicológico.
Nem toda dor leva ao sofrimento. Na verdade, idealmente a dor do parto não deveria se traduzir em sofrimento.
O sofrimento estaria presente, por exemplo, se a mãe for maltratada, ignorada em suas queixas ou submetida a intervenções desnecessárias contra sua vontade durante o parto.
Nessas situações, a experiência dolorosa ganha contornos negativos muito mais profundos, tornando-se traumática.
Por outro lado, quando a mulher é acolhida, respeitada e está em um ambiente seguro, ela pode sentir dor intensa sem que isso signifique sofrer no sentido pleno da palavra.
Uma forma de separar dor de sofrimento é pensar no propósito da dor do parto.
A dor no parto com finalidade positiva: o corpo sinaliza o que precisa ser feito para ajudar o bebê a nascer.
Cada contração dolorosa empurra o bebê mais para baixo, dilata um pouco mais o colo do útero e estimula a mãe a se movimentar ou a mudar de posição para facilitar a passagem.
Ou seja, a dor no parto tem um significado funcional, diferente da dor de uma doença ou de uma lesão sem propósito claro.
Como se preparar para a dor no parto?

Embora não seja possível saber de antemão quanta dor você sentirá no trabalho de parto (já que cada mulher e cada parto são diferentes), é plenamente possível se preparar para lidar melhor com essa dor.
A preparação física, mental e emocional vai aumentar sua confiança e auxiliar para enfrentar as contrações quando chegarem.
A Dra. Marina Mariz preparou algumas algumas estratégias importantes de preparação. Vamos conhecê-las?
1. Informe-se e busque conhecimento
A informação é uma das maiores aliadas contra o medo da dor no parto. Então, busque aprender o máximo que puder sobre o processo do parto.
Se possível, participe de cursos de preparação para gestantes, leia livros ou artigos confiáveis e converse com profissionais de saúde sobre o assunto.
Compreender o que acontece com seu corpo em cada fase do trabalho de parto – e quais sensações são esperadas – ajuda a tornar tudo menos assustador.
No pré-natal, tire suas dúvidas com o obstetra ou a enfermeira obstetra: pergunte sobre a evolução das contrações, sobre opções de analgesia e sobre métodos não farmacológicos disponíveis na maternidade.
Quanto mais conhecimento, mais segurança. Muitas mulheres relatam que, ao se prepararem bem, conseguiram enfrentar a dor no parto sem desistir do parto normal.
2. Tenha apoio e troque experiências
Não passe pela jornada do parto sozinha, construa uma rede de apoio que faça toda a diferença.
Por isso, converse com outras mulheres que já tiveram parto normal e peça para dividirem suas experiências de dor e superação.
Uma opção é participar de grupos de gestantes ou rodas de conversa. Essa é uma ótima forma de ouvir relatos reais e dicas práticas de quem já vivenciou o trabalho de parto.
Escutando histórias positivas de partos em que a dor foi manejada com sucesso, você ganhará confiança de que também é capaz.
Além do apoio emocional de outras mães, envolva seu parceiro ou outra pessoa de confiança nos preparativos.
Ter alguém ao seu lado que entenda seus medos e saiba como lhe ajudar na hora H – seja segurando sua mão, fazendo uma massagem ou falando palavras de incentivo – vai deixá-la mais segura desde antes do parto.
O importante é não se isolar: apoio social e informação andam juntos para construir sua segurança.
3. Pratique técnicas de relaxamento e respiração
A maneira como você lida mentalmente com a dor pode alterar significativamente a percepção que terá dela.
Por isso, vale a pena treinar antecipadamente algumas técnicas de relaxamento e respiração para usar no trabalho de parto.
Alguns métodos como Hipnobirthing, meditação guiada e exercícios de respiração do yoga adaptados para gestantes podem aumentar sua capacidade de manter a calma durante as contrações.
Cada mulher vai encontrar a técnica de relaxamento que melhor lhe convém. Algumas preferem visualizar mentalmente locais tranquilos, outras se concentram em mantras positivos (como repetir para si mesma que cada contração a aproxima do bebê).
O objetivo dessas práticas é diminuir a tensão muscular e o pânico que amplificam a dor no parto. Quanto mais relaxada e centrada você conseguir ficar, mais o seu corpo produzirá hormônios favoráveis.
4. Enfrente seus medos e fortaleça a mente
Se preparar para a dor no parto também envolve um trabalho interior de reconhecer e elaborar os medos.
Muitas mulheres carregam desde cedo um temor profundo de “não aguentar” a dor ou de que algo saia errado.
Em vez de tentar suprimir esses medos, a recomendação dos especialistas é encará-los de frente durante a gestação.
O fortalecimento da mente significa treinar o psicológico para manter o foco no objetivo mesmo diante das contrações fortes, confiando que elas vão passar e você dará conta de cada etapa.
Ou seja, essa confiança mental, aliada às técnicas de respiração e ao apoio ao redor, forma um conjunto poderoso contra o medo e o sofrimento.
5. Elabore um plano de parto e discuta opções de alívio
Por fim, uma preparação prática essencial.
Então, planeje com antecedência como você deseja lidar com a dor quando o trabalho de parto começar.
Registre suas preferências em um plano de parto por escrito, indicando se você quer liberdade para se movimentar, se deseja tentar primeiro medidas naturais e recorrer à anestesia apenas se achar necessário, ou ao contrário, se já pretende usar analgesia assim que possível.
Além disso, inclua também quem será seu acompanhante e o tipo de ambiente que você gostaria (luzes baixas, música, etc.).
Com o plano em mãos, compartilhe-o com a equipe que for assisti-la. Estar com tudo alinhado previamente evita surpresas e garante que seus desejos sejam respeitados.
No entanto, lembre-se de que parto é um evento dinâmico e nem tudo sairá exatamente como planejado, mas esse exercício de planejamento lhe dá maior senso de controle e reduz a ansiedade.
Dor do parto é a pior que existe?

Sempre se ouviu dizer que a dor do parto normal é a pior dor do mundo. Essa ideia já virou quase um ditado popular – porém, não é exatamente o que nos diz a medicina.
Embora a dor no parto seja, sim, muito intensa, especialistas afirmam que existem outras dores agudas capazes de superá-la em sofrimento.
Um exemplo frequentemente citado é a cólica renal causada por pedra nos rins, cuja dor lancinante e contínua pode ser tão ou mais torturante que uma contração de parto.
Outra condição conhecida por gerar dores fortíssimas é o glaucoma em crise, apontado por médicos como igualmente insuportável ou pior que a dor de parir, dependendo do caso.
A grande diferença é que, no parto, a dor das contrações vai e vem em ondas, com intervalos de alívio entre elas, enquanto dores como a da cólica renal tendem a ser constantes e prolongadas.
Além disso, a dor do parto tem uma hora para acabar – ela cessa quando o bebê nasce, colocando fim ao processo que a causava.
Conclusão
A dor no parto assusta, mas conhecer sua dinâmica e seus motivos ajuda a encará-la com menos terror.
Cada mulher sentirá o trabalho de parto de forma diferente, e todas as experiências são válidas.
O mais importante é saber que hoje dispomos de meios para tornar essa dor manejável: desde apoio contínuo, técnicas de conforto e respiração, até anestesia se necessário.
A dor no parto não precisa ser sinônimo de sofrimento. Pelo contrário, pode ser entendida como parte de um processo poderoso pelo qual o corpo traz uma nova vida ao mundo.
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Dra Marina Mariz
Ginecologista e Obstetra
Defensora do Parto Humanizado
Especialista em Gestação de Alto Risco
Co-fundadora da Amara | NÚCLEO DE OBSTETRÍCIA